lothar

charoux

biografia

Lothar Charoux (Viena, 1912 – São Paulo, 1987) iniciou os estudos em arte com seu tio, o escultor austríaco Siegfried Charoux. Chegou ao Brasil em 1928 e logo se fixou em São Paulo, onde frequentou o Liceu de Artes e Ofícios. Em 1947, realizou sua primeira exposição individual na Galeria Itapetininga. A partir de 1948, volta-se às questões construtivas e é signatário do Manifesto Ruptura em 1952. Com Hermelindo Fiaminghi e Luiz Sacilotto criou a Associação de Artes Visuais NT – Novas Tendências, em 1963. Foi homenageado com retrospectiva no MAM-SP e no MAM-RJ em 1974. Em 2005, foi publicado o livro Lothar Charoux: A Poética da Linha, organizado por Maria Alice Milliet.

o rigor e a sensibilidade de lothar charoux

O mergulho nos documentos textuais do Fundo Lothar Charoux nos revelou uma narrativa comum sobre a vida do artista austríaco radicado no Brasil: relatos sobre o seu processo migratório, seus estudos no Liceu de Artes e Ofícios em São Paulo e a vida laboral que manteve em paralelo a sua carreira artística. Seu trabalho foi reconhecido tardiamente pelo mercado de arte, o que fez com que somente nos anos 1970, aos 61 anos, ele pudesse se dedicar exclusivamente à atividade artística. Em 1974, ano de destaque na sua carreira, Charoux ganha uma retrospectiva no Museu de Arte Moderna de São Paulo, que itinera, no mesmo ano, para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. 

Nossa hipótese é que tal exposição é um marco fundamental para a sua afirmação no circuito artístico e para a divulgação do seu trabalho para o grande público. Reafirma-se, a partir dela,  uma narrativa quase evolutiva sobre o trabalho do artista: do expressionismo, passando pelo cubismo e rumo a uma abstração geométrica sensível e humana.

Curadoria e textos críticos: Ana Roman e Isaac Guimarães

Não gostaríamos, portanto, que a pintura fosse envolvida inteiramente pelo abstracionismo – angústia, inquietude vã, evasão metafísica – embora sejamos os primeiros a nos entusiasmar com a nobre composição e colorido de certos trabalhos de Charoux. Todavia, este é ainda um “abstracionista”: caminha para lá cada vez mais.

Charoux e Toledo Lara, de Ibiapaba Martins, Texto publicado no Correio Paulistano, São Paulo, 1948

Suas variantes sobre temas lineares, suas soluções aos problemas de espaço e estrutura, suas espirais em posição áurea, suas trajetórias em ritmos dentro de espaços noturnos, Negros, onde o seu tira-linhas descreve constelações e percorre segredos de galáxias – tudo isso prova o seguinte: possibilidades ilimitadas de criar em planos chapados elementos gráficos com função plástica de efeito belíssimo.”

Lothar Charoux, de José Geraldo Vieira.
Texto publicado no Correio Paulistano, São Paulo, 1958.

Nos últimos dez anos, essa seriedade se traduz sobretudo pela coerência e pela economia de meios. Charoux optou por uma obra predominantemente gráfica, muito mais desenho que pintura, onde apenas o traço reina soberano. Como tendência geral, poderia ser enquadrada na op art – muito antes que a op tivesse virado uma moda européia de exportação.”

O traço soberano, de Olívio Tavares de Araujo.
Texto publicado na Revista Veja, São Paulo, 1974.

Superada a fase inicial figurativa, sob a influência básica de seu professor Waldemar da Costa, a fidelidade a uma mesma linguagem vale por definição do trabalho de Lothar Charoux nos últimos quinze ou dezesseis anos. Das fórmulas estilísticas fundamentais no expressionismo e no cubismo veio chegando, pouco a pouco, aos limites externos da abstração.”

Lothar Charoux: retrospectiva, de Roberto Pontual. Texto publicado na ocasião da mostra individual do artista no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, 1974.

linha do tempo

Cronologia IAC – eventos selecionados

Nasceu em Viena, na Áustria, em 5 de fevereiro de 1912, onde vive até os 16 anos na casa de sua avó, juntamente com um tio escultor e caricaturista, sua primeira referência de arte moderna.

Imigra para o Brasil ao encontro de sua mãe, que aqui trabalhava em espetáculos teatrais no sul do país. Vive no Mato Grosso, no interior de São Paulo e depois se estabelece na capital.

Participa da exposição 19 Pintores, na Galeria Prestes Maia, em São Paulo.

Realiza sua primeira exposição individual na Galeria Itapetininga, em São Paulo, onde apresenta a obra Calvário.

Lothar Charoux juntamente com Anatol Wladyslaw,Geraldo de Barros, Kazmer Féjer, Leopoldo Haar, Luiz Sacilotto e Waldemar Cordeiro, fundam o Grupo Ruptura

Charoux participa da I Exposição Nacional de Arte Concreta, no Museu de Arte Moderna de São Paulo.

Integra na Coletiva Inaugural 1, na Galeria Novas Tendências, em São Paulo, e juntamente com Hermelindo Fiaminghi e Luiz Sacilotto. Charoux funda a Associação de Artes Visuais NT.

Participa da exposição Arte Brasileira no Exterior a qual, viajou ao longo de dois anos por várias cidades dos Estados Unidos da América.

Recebe retrospectiva no Museu de Arte Moderna de São Paulo e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

conheça a seleção
de documentos

Você também pode ler as transcrições dos documentos e as legendas críticas feitas pelos curadores.

Os primeiros sinais da poética abstrata de Charoux são apontados pelo crítico Ibiapaba Martins em 1948, que também comenta sobre um certo desagrado em relação a essa estética por parte do público. O texto é publicado na ocasião da primeira mostra de Charoux e Orlando Toledo na Galeria de Arte Itapetininga.


Título

Charroux e Toledo Lara


Data

1948

Nº de ordem IAC

20771

Tipo

Artigo em jornal

Autoria

Artigo em jornal


José Geraldo Vieira, importante crítico de arte do período, relembra a trajetória inicial de Charoux com técnicas e formulações figurativistas, mas salienta a importância do artista ter buscado outros caminhos menos saturados e encontrado no concretismo seu espaço de composições e pesquisa. O artigo traz um discurso sobre a transição da carreira e das pesquisas do artista que será incorporado por toda a crítica.


Título

Lothar Charoux


Data

1958

Nº de ordem IAC

21187

Tipo

Artigo em jornal

Autoria

José Geraldo Vieira


Em nota sobre a mostra de Charoux na Galeria de Aremar, em Campinas, o crítico e teórico Ferreira Gullar remete-se a um texto de Mário Pedrosa, no qual o crítico contrasta o rigor da obra de Charoux com sua sensibilidade e humor, criando por sua vez um lirismo para as linhas e formas geométricas que dispõe em seus trabalhos. A identificação de Charoux com uma abstração sensível é apontada como seu diferencial pela crítica em geral.


Título

Desenhos de Lothar Charoux


Data

20/06/1962

Nº de ordem IAC

21144

Tipo

Nota em jornal

Autoria

Ferreira Goulart


Em entrevista, Charoux fala sobre seu processo, a fascinação pela simplicidade e a inaptidão para participar de grupos. Ele também comenta como foi importante se libertar da influência do Liceu de Artes e Ofícios para sua trajetória. O artista incorpora ainda, em seus enunciados, elementos do discurso crítico da época.


Título

A simplicidade de L. Charoux nos seus desenhos geométricos


Data

19/05/1971

Nº de ordem IAC

21591

Tipo

Entrevista

Autoria

não identificada


Celebrada pela crítica paulista, a exposição de Charoux no MAM-SP destaca a consistente trajetória do artista e a autenticidade de sua pesquisa: Jacob Klintowitz o compara a um operário, que cumpre o seu dever sem esperar reconhecimento social, e sublinha o papel da mostra como um momento comemorado de tão prolífica carreira.


Título

Lothar Charoux e a rejeição da anedota visual


Data

17/05/1974

Nº de ordem IAC

20610

Tipo

Artigo em jornal

Autoria

Jacob Klintowitz


Ernestina Karmann, na Folha da Tarde, destaca o quão equivocada é a associação de Charoux a Victor Vasarely, entendendo o primeiro como um discípulo do artista húngaro. Karman aponta para a unicidade de sua pesquisa geométrica de caráter sensível. Para ela, a excepcionalidade da mostra é permitir ao espectador conhecer a persistente trajetória de Charoux.


Título

Lothar Charoux


Data

17/05/1974

Nº de ordem IAC

20605

Tipo

Artigo em jornal

Autoria

Ernestina Karman


Otávio Tavares de Araujo, na revista Veja, também celebra a mostra no MAM e salienta o aspecto humano das proposições geométricas e, muitas vezes, monocromáticas de Charoux. Mais uma vez, a trajetória do artista é apresentada: sua formação no Liceu de Artes e Ofícios e sua virada rumo à abstração. O crítico recorre à descrição física do artista para aproximar o leitor, identificando-a com uma sensibilidade presente nos trabalhos abstratos-geométricos.


Título

O traço soberano


Data

22/05/1974

Nº de ordem IAC

20764

Tipo

Artigo em jornal

Autoria

Olívio Tavares de Araújo


Geraldo Ferraz, outro importante crítico do período, descreve a trajetória de Charoux apresentada na mostra do MAM-SP. O texto do crítico, no qual se elogia a persistência e pesquisa de Charoux, nos revela a maneira pela qual tal exposição contribuiu para a consolidação dos discursos sobre a trajetória do artista. Na crítica – e também na mostra – reafirma-se uma narrativa quase evolutiva sobre Charoux: do expressionismo, passando pelo cubismo e rumo a uma abstração geométrica sensível e humana.


Título

Retrospectiva de Charoux no Museu de Arte Moderna


Data

24/05/1974

Nº de ordem IAC

20604

Tipo

Artigo em jornal

Autoria

Geraldo Ferraz


Em carta pessoal com um tom inicialmente pessimista pelas condições vividas no Brasil nos anos 1970, Charoux narra o processo de realização de sua mostra individual no MAM-SP, destacando, por exemplo, a grande festividade com a qual foi recepcionada pela crítica e público. O artista também destaca a produção e venda de múltiplos como um grande diferencial da proposta da exposição. Nas linhas seguintes, Charoux conta para seus amigos que a mostra também se realizaria no Rio de Janeiro, e que tem dúvidas sobre sua repercussão na cidade. Em paralelo à retrospectiva, Charoux explica ainda, para seus colegas, o esforço para organização de outras exposições.


Título

Sem título


Data

16/07/1974

Nº de ordem IAC

20789

Tipo

Carta pessoal

Autoria

Lothar Charoux


Independentemente da pouca celebração e repercussão da mostra, a crítica carioca do período também estima a trajetória e consistência de Charoux, e ressalta sua inventividade, como se lê no texto de Roberto Pontual para o folder da mostra: “(…) sua atuação como pintor e desenhista vem-se estendendo continuadamente entre nós há mais de trinta anos, numa contribuição que se evidencia sobretudo pela coerência evolutiva (…)”. O crítico destaca ainda as proposições visuais e óticas levadas à cabo pelo artista e o convite feito ao público para integrá-las. O lirismo da geometria de Lothar é, novamente, elogiado.


Título

sem título


Data

18/07/1974

Nº de ordem IAC

20750

Tipo

Apresentação Catálogo

Autoria

Roberto Pontual


A itinerância da mostra individual de Charoux para o Rio de Janeiro não é aclamada pela crítica local. A nota de José Roberto Teixeira Leite para o Jornal O Globo traz isso à tona e dá o tom geral para a recepção da crítica. Destaca-se a racionalidade e sobriedade de Charoux, mas aponta-se pelo fato do artista ser “compreensivelmente pouco conhecido entre os cariocas”. Os prováveis motivos para essa recepção pouco calorosa poderiam ser especulados: seria uma continuidade na relação conflituosa entre os grupos de artistas concretos de São Paulo e Rio de Janeiro que se inicia em 1957 com a Exposição de Arte Concreta realizada no Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro?


Título

Retrospectiva Charoux no MAM


Data

1995

Nº de ordem IAC

20607

Tipo

Artigo em jornal

Autoria

José Roberto Teixeira Leite


Fotografia de Lothar Charoux com o braço apoiado sobre uma mesa com algumas obras geométricas dispostas sobre esta.


Título

sem título


Data

s/d

Nº de ordem IAC

21006

Tipo

Fotografia

Autoria

Não identificada


Estudo do artista Lothar Charoux. Desenho abstrato na cor cinza sobre fundo preto.


Título

sem título


Data

s/d

Nº de ordem IAC

20584

Tipo

Serigrafia

Autoria

Lothar Charoux


Desenho abstrato geométrico, frente e verso, com fundo preto à nanquim amarelo.


Título

sem título


Data

s/d

Nº de ordem IAC

20644

Tipo

Nanquim sobre papel

Autoria

Lothar Charoux