Vitória Cribb


Obra doada para a
coleção ARTEMÍDIAMUSEU

Prompt de comando

Videoarte, 10′ 47″, Render 3D, animação 3D, simulação 3D, 1920×1080 FULL HD


Em Prompt de Comando, testemunhamos o relato de uma Inteligência Artificial (AI) sobre seus dilemas relativos à autonomia e à consciência: ela descreve a fragmentação do corpo virtual e a ideia de obsolescência que permeia a sua existência. O texto, escrito em uma tela de programação do windows, é rasurado e apagado, e, nestes subtextos que desaparecem, inscrevem-se reflexões sobre o corpo negro e sua espoliação ao longo dos séculos. Com este trabalho, a artista sinaliza que o debate sobre a ética relacionado à técnica e tecnologia avança sem considerar o racismo estrutural que permeia o seu desenvolvimento.

apresentação

O trabalho de Vitória Cribb parte dos afetos e sensações, muitas vezes aflitivas, que permeiam esta relação entre a tecnologia digital e a tecnologia biológica. A artista parece querer encontrar humanidade na máquina e em nós as semelhanças com essa lógica padronizada. Entretanto, Cribb quer desviar da rota de alienação e encanto que tantas tecnologias nos oferecem: diante da potencialidade da inteligência artificial ela se interroga sobre aspectos éticos que permeiam essas relações humano-máquina.

Umas dessas indagações pode ser acompanhada em “Prompt de Comando”, obra que agora passa a fazer parte da coleção ARTEMÍDIAMUSEU, do Museu Nacional de Brasília.  No trabalho, que já circulou em festivais e exposições nacionais e internacionais, há uma tela de comando baseada em texto (prompt), onde a usuária Vitória relata os dilemas de ser um corpo físico vivendo na era digital. O texto é permeado por reflexões sobre o racismo, espoliação histórica do corpo negro e a precariedade que ainda marca a experiência da população racializada no Brasil. A artista constrói sofisticadas metáforas entre o navegar no mar da web e entre o viver em uma sociedade cuja desigualdade é o ponto de partida. Acompanhamos, portanto, o fluxo de pensamento de quem escreve, intercalado por imagens que aparecem momentaneamente durante o vídeo.

Seguindo essa ideia de fluxo, respondemos às provocações feitas por Cribb com um outro fluxo de pensamento, uma mistura de nossas subjetividades orgânicas e interferências digitais. Inserimos todas essas referências em um Padlet, uma espécie de mapa mental navegável. De músicas a filmes, textos, gifs, memes, séries: está tudo lá, na mesma posição hierárquica. Em um tom às vezes mais político, e, em outros momentos, em um exercício de livre associação imagética, nossa intenção é compartilhar alguns aspectos de nossa própria experiência subjetiva e outros que nos foram apresentados pelo algoritmo e são parte de nós. Neste padlet, o espectador é convidado a navegar e circular livremente, lembrando que qualquer clique vai alimentar um grande e ininterrupto circuito de geração de dados.

Curadoria: Ana Roman, Emily Mayumi, Isaac Guimarães e Lucas Alameda.

padlet


Interferência

2021, 1’02’’


Em Interferência, Vitória Cribb propõe o encontro com um corpo digital, cuja forma, textura e diagramação se assemelham àquelas do corpo humano que conhecemos. A existência deste corpo digital, disponível a nossa interação enquanto espectadores, se dá somente no plano virtual. Em um encontro com o absurdo (e até abjeto) contido neste corpo, Cribb nos provoca a refletir sobre uma certa autonomia do universo virtual e, ainda, sobre as múltiplas possibilidades de agenciamento e de criação de identidades neste campo.


Espontaneidade Programada

2020


Espontaneidade programada é uma carta cujo destinatário é o Algoritmo –  essa espécie de voyeur digital, criatura invisível, programada para resolver problemas. Cribb se dirige a ele, ironicamente, como amigo e, neste trabalho, acompanhamos, nas palavras da artista, a descrição de sua rotina virtual, permeada por um tom confessional e pelo relato de uma relação cada vez menos saudável (e talvez até tóxica) com esta ‘entidade virtual’ . Em um humor irônico-passivo-agressivo, a artista parece negociar a sua liberdade e a possibilidade de escolha diante de um universo no qual o universo virtual e o mundo físico se fundem.

biografia

Cribb é formada pela Escola Superior de Desenho Industrial da UERJ, Rio de Janeiro, Brasil. Filha de pai haitiano e mãe brasileira,  vem criando nos últimos anos narrativas digitais e visuais que permeiam técnicas como: criação de avatares em 3D, filtros em realidade aumentada e ambientes imersivos, utilizando o ambiente digital como meio para explicar suas investigações e questões atuais percorridas por seu subconsciente.  Vitória investiga os comportamentos e desenvolvimentos de novas tecnologias visuais / sociais e transpõe o seu pensamento através da imaterialidade presente no digital.​